Afeto é importante para o desenvolvimento cerebral de crianças, diz especialista

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O carinho e o contato físico são fundamentais para o pleno desenvolvimento cerebral das crianças, afirma o neuropsicólogo espanhol Álvaro Bilbao, que se dedica a ajudar pessoas com danos cerebrais a melhorar a memória e outras funções cognitivas.

“Os bebês precisam de colo, de serem beijados, tocados, abraçados. Quando são um pouquinho maiores, também necessitam de contato físico, mas principalmente que os pais falem com eles, que digam as coisas que são boas para eles e as que não são boas. Que se nutram com alimentos, com jogos, exercícios, pois são essas coisas que fazem com que o cérebro esteja preparado para se desenvolver”, ensina.

Álvaro defende que os primeiros anos de vida são os mais importantes para o desenvolvimento cerebral. “Se a criança, nos seis primeiros anos, não tiver a oportunidade de experimentar o mundo, descobrir as coisas, se não receber afeto dos seus pais, se não se comunicar, o cérebro terá carências que podem durar toda a vida. Sabemos que as crianças que não recebem afeto se tornam adultos com menor desenvolvimento cerebral”.

Importância do afeto e do carinho

O especialista explica que a neurociência fornece muitas informações sobre o que as crianças precisam, principalmente, sobre a importância do afeto e do carinho nos primeiros anos de vida. Mas também mostra como é fundamental que as crianças aprendam as coisas que podem e que não podem fazer.

“A neurociência mostra a diferença de uma experiência educativa se comparada a uma outra, portanto nos ensina o que realmente funciona”, explica o especialista.

Inspirado por sua experiência em ser pai de três crianças pequenas, e baseado em pesquisas de diversos autores, publicadas nos últimos 30 anos, Álvaro escreveu o livro “O cérebro da criança explicado aos pais”, lançado esta semana em Portugal, e ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

Para ele, o livro pode ajudar pais que queiram entender melhor seus filhos, que possam perceber quais coisas os motivam, quais necessidades têm para seu desenvolvimento intelectual, emocional, e também como podem ajudar a se comportar melhor.

Tecnologia nas escolas

Quanto ao uso de tecnologias nas escolas e na vida cotidiana dos pequenos, Álvaro defende que é sempre melhor optar primeiro por atividades que impliquem trabalho em grupo com os colegas e atividades manuais, em vez de qualquer opção que tenha a ver com utilizar “telas”.

“Há muitos debates sobre se as tecnologias dentro das escolas facilitam ou dificultam o aprendizado e há estudos que apontam nos dois sentidos. Curiosamente, Steve Jobs e Bill Gates não compraram dispositivos eletrônicos, nem tablets, para os seus filhos até que fossem grandes porque sabem que a educação analógica é o que te prepara para inovar, para que se saia bem no mundo digital”, disse Álvaro Bilbao.

Conselho para os adultos

Para aqueles que querem manter o cérebro saudável, o neuropsicólogo indica seis cuidados essenciais. “O primeiro é o exercício físico, o mais importante. O segundo é a nutrição: ingerir alimentos saudáveis, ômega 3, frutas e verduras e reduzir muito o consumo de gordura animal. A terceira chave para o cérebro é o sono, ou seja, dormir pelo menos 7 ou 8 horas todos os dias. A quarta é a socialização; reunir-se com os amigos, com a família e passar pelo menos uma hora todos os dias com pessoas com quem conversamos. A quinta é evitar o estresse e a sexta é estimular o cérebro, principalmente aprendendo coisas novas. Não é fazer sudokus, palavras cruzadas… é aprender coisas novas e desafiantes”.

Quem é

Álvaro Bilbao é doutorado em Psicologia da Saúde e formado em Neuropsicologia pelo Hospital Johns Hopkins e pelo Kennedy Krieger Institute, nos Estados Unidos, e pelo Royal Hospital for Neurodisability, no Reino Unido.

Colaborou com a Organização Mundial da Saúde e já recebeu diversos prêmios por suas investigações no âmbito da psicologia e da neurociência. Especialista em plasticidade cerebral, é professor universitário na área da reabilitação da memória e psicoterapeuta.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br